O esperadíssimo quinto disco do La Casa Azul, La Gran Esfera,
está um pouco mais perto agora que foi liberado o seu quarto single: Nunca
Nadie Pudo Volar.
Um dos singles mais pessoais já lançados pelo projeto do espanhol
Guille Milkyway, a canção e o clipe foram inspirados no mito de Ícaro e mostram
uma história muito familiar para muitos de nós: a necessidade de ir contra o
senso comum e a vontade alheia em busca da felicidade. Em tempos tão obscuros,
é reconfortante ver um artista se posicionando tão claramente.
O clipe é cheio de referências de cultura pop, o casal gay é
fofo, as dancinhas são legais e o final não fica devendo nada para os filmes de super-heróis mais
legais que eu vi recentemente (essa última parte pode ter sido um pouco
exagerada).
A música segue o caminho dos dois singles anteriores e está
bem distante do som característico do La Casa Azul, que costumava ter bastante inspiração
dos anos 60 e 70. O espirito da disco music ainda está lá, mas modernizado.
O álbum La Gran Esfera ainda não tem data de lançamento, mas
Nunca Nadie Pudo Volar me deixou com muita vontade de escutar mais, espero que
não demore!
O grupo Mecano, formado pela vocalista Ana Torroja e pelos
irmãos Nacho e José Maria Cano, foi um dos principais expoentes do movimento da
Movida Madrileña. Desde o lançamento de seu primeiro single, Hoy No Me Puedo
Levantar, se tornaram um dos mais importantes e inovadores grupos pop da
Espanha.
Na metade da década de 80, quando muitos dos grupos que
despontaram com o movimento começavam a desaparecer, o Mecano seguiu forte se
renovando a cada disco e permanecendo relevante e popular.
Em julho de 1988, lançaram seu quinto disco, Descanso
Dominical. Com o sucesso do single No Hay Marcha em Nueva York, o álbum fez
um enorme sucesso e vendeu mais de um milhão de cópias só na Espanha, vindo a ser o mais vendido do ano.
Mas foi o terceiro single do disco, lançado em dezembro
daquele ano, que entraria para a história: Mujer Contra Mujer, um dos
primeiros hinos gays lançados na Espanha.
Por mais que outras canções da Movida também fossem
claramente gays, grande parte delas tinha mensagens de autoaceitação que podiam ser
interpretadas de muitas maneiras, e poucas tratavam abertamente das relações de
seu público-alvo como Mujer Contra Mujer.
A canção realmente não dá abertura para outra interpretação, é claramente sobre duas mulheres que têm que esconder sua relação em público, disfarçando
de amizade, e que mesmo assim são vítimas da opinião e de críticas alheias. Uma
situação que provavelmente qualquer casal homossexual conhece bem, em qualquer lugar
do mundo. O clipe da música, mesmo sendo muito sutil e sensível,
sofreu censura em vários dos países onde foi lançado, principalmente (surpresa!)
na América Latina. No México a música teve inicialmente sua execução pública proibida,
mas o sucesso foi tanto que o veto acabou caindo. Na Espanha, a homossexualidade foi descriminalizada em 1979,
mas manifestações públicas de afeto entre duas pessoas do mesmo sexo foram
consideradas delito por escândalo público até 1988, pouco antes de o grupo
lançar a música como single e fazer questão de divulgá-la em todos os programas
de televisão do país.
Dois anos depois do sucesso na Espanha, o Mecano regravou a canção em francês (chamada de Une Femme Avec Une Femme) e levou a música para o topo das paradas da França, onde permaneceu por 8 semanas. No mesmo ano, lançaram também uma versão em italiano (Per Lei Contro Di Lei).
Muitos artistas de todos os lugares do mundo regravaram a música, mas para nós brasileiros uma versão curiosa é a da cantora Simone, que cantou Mujer Contra Mujer no seu disco em espanhol Dos Enamoradas, de 1996, com um arranjo e produção de Bebu Silvetti.
Hoje, 30 anos depois, apesar de alguns avanços no que diz
respeito a leis e direitos civis, continuamos enfrentando tempos difíceis e ainda
nos causa uma certa surpresa quando artistas muito influentes se assumem homossexuais ou manifestam
apoio às causas LGBT. Pensando nisso, podemos ter uma noção do tamanho do
impacto que Mujer Contra Mujer teve na época.
A coragem do grupo de abordar um tema tão delicado, que podia até prejudicá-los com a opinião popular, de uma maneira tão bonita e sem apelação não passou desapercebida, e Mujer Contra Mujer se tornou uma das canções mais famosas deles, além de ser um marco na luta pelos direitos LGBT na Espanha.
Depois do enorme sucesso do projeto Versus, que viu Gloria
Trevi se unindo à “rival” Alejandra Gusmán, os fãs estavam impacientes para
saber qual seria a próxima empreitada da suprema diva do pop-rock mexicano.
E finalmente Gloria está de volta com o single Que Me Duela,
uma ode ao vampirismo que mescla reggateon e rock. Para quem não está
acostumado com o repertório da Trevi, essa mistura pode parecer um tanto quanto
fora do comum, mas é algo que está bem no território dela.
A letra da música mostra uma Gloria que gosta de sentir medo
e dor e está ansiosa pela visita de um vampiro. O refrão tem uma sequência de
trocadilhos que só podia ter sido escrita por ela. Já está mais do que na hora
das pessoas perceberem que ela é uma das melhores compositoras do pop latino.
E o clipe é um show à parte. Ela usa perucas de todas as
cores possíveis e imagináveis, passeia por um clube de sadomasoquismo, flerta
com vários vampiros seminus e bebe uma quantidade enorme de vinho (ou seria
sangue?). Se você acha tudo isso absurdo, espere até ouvir o último refrão, que
começa lento e vai acelerando até ficar freneticamente rápido. É por causa de
coisas assim que eu acho a Gloria Trevi uma artista tão fantástica. Ela podia
muito bem ficar lançando o reggaton genérico que as outras cantoras do mesmo gênero
lançam no piloto automático (desculpa aí, Thalia e Paulina), mas ela bate o pé
e lança uma coisa que tem a cara dela.
Ontem fomos surpreendidos com a primeira imagem da atriz Renée Zellweger caracterizada de Judy Garland para o filme Judy (prometido ainda para este ano), que narrará os momentos finais da atriz e cantora, que faleceu em Londres em 1969 de overdose de barbitúricos.
Judy não é um papel fácil, ela tinha uma maneira muito particular de interpretar suas canções, além, é claro, de ser uma atriz muito boa. Poucas pessoas contavam anedotas e faziam piadas de si próprias como ela. Qualquer exagero na interpretação de seus maneirismos pode deixar a performance mais com cara de Snatch Game do que de um filme sério.
Talvez por isso, poucas atrizes se atreveram a encarná-la. Dessas, algumas foram mais bem-sucedidas que outras, mas provavelmente ninguém superou Judy Davis na minissérie Me and My Shadows (2001), baseada no livro da outra filha de Judy, Lorna Luft, que narrava a vida dela do início ao fim. Judy Davis se empenhou tanto para representar a fase adulta de Judy, que ganhou o Emmy de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme, além de mais 5 prêmios de melhor atriz, como o Globo de Ouro e o Screen Actors Guild Award.
Além dela, Tammy Blanchard encarnou Judy Garland adolescente. Mesmo sem uma performance tão impressionante quanto a de Judy Davis, ela conseguiu transmitir bem a insegurança por trás das câmeras da jovem atriz, que desaparecia a partir do momento em que ela começava a cantar.
Antes de 2001, a vida de Judy já tinha servido de inspiração para uma produção televisiva. Em 1978 o filme Rainbow foi produzido e exibido pela NBC nos Estados Unidos e focou no início da carreira de Judy, terminando no sucesso de O Mágico de Oz (1939). A encarregada do papel foi Andrea McArdle, que tinha acabado de estourar na Broadway interpretando a órfã Annie. Infelizmente só uma filmagem da televisão está disponível na internet, mas já é o suficiente para constatar que a atriz, apesar de muito talentosa, não tinha a voz para interpretar Judy.
No Brasil, já houve uma montagem teatral do musical Judy Garland – End of The Rainbow (que, inclusive, servirá de base para o novo filme com Renée Zellweger), mas como foi montada por um produtor declaradamente racista, preferimos não comentar.
E para terminar, ninguém melhor para representar Judy Garland que ela mesma. Ela fez isso no filme musical Words and Music (1948, no Brasil: Minha Vida É Uma Canção), em uma cena em que encontrava com o compositor Lorenz Hart, interpretado por Mickey Rooney, e cantava com ele duas músicas.
A cena é clássica por ser o último registro dos dois em filme. Mas já era um indicativo dos problemas que a atriz estava tendo. O vício em remédios fazia com que Judy ganhasse e perdesse peso muito rápido. Como houve um intervalo entre a gravação das duas músicas, a diferença entre os takes é bem aparente.
Da mesma maneira que Feud (2017), minissérie sobre a rixa entre Joan Crawford e Bette Davis, fez nascer uma nova geração de fãs das duas e do cinema clássico de Hollywood (independentemente das opiniões sobre a minissérie em si), torcemos para que Judy traga mais uma legião de fãs para a interprete de Dorothy. E vamos combinar que conhecer um pouco de Judy é essencial pra qualquer amigo de Dorothy que se preze.
Curiosidade: Judy Davis também estava em Feud! Ela interpretou a jornalista Hedda Hopper e estava em algumas das melhores cenas da minissérie!